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A invasão da pornografia no cotidiano é tema de uma exposição aberta nesta semana em um dos mais respeitados museus de arte contemporânea da Europa.
"The Porn Identity - Expeditionen in der Dulkelzone" ("The Porn Identity - Expedições na zona escura") é o título da mostra inaugurada nesta quinta-feira no Kunsthalle Wien, na capital austríaca. O título faz um trocadilho com o nome original do filme americano A Identidade Bourne.
O evento discute, conforme afirmam os organizadores, a infiltração da iconografia pornô na arte, na mídia e na sociedade.
"Pornô é aquilo com que não queremos que alguém nos flagre na hora", classifica o texto de apresentação.
"Entretanto, a pornografia está em todo lugar, infiltrada no mainstream e se reproduzindo rapidamente em todos os nichos. No cotidiano, no pop e na arte", prossegue. "Essa 'pornetração' invade as mídias", resume o texto, assinado por um dos curadores da exposição, Thomas Edlinger.
O evento, segundo Edlinger, é uma tentativa de lidar com tabus como a pornografia que, embora seja encontrada em todas as áreas da sociedade, não tem reconhecimento na vida pública, por só ter consumida em segredo.
"A sexualidade é a força motriz de nossa sociedade", lembra o diretor da Kunsthalle Wien, Gerald Matt, conhecido por organizar eventos que surpreendem e são sucesso de público.
'Laranja mecânica'
A exibição inclui obras de 70 artistas contemporâneos, entre instalações, vídeos, filmes e esculturas.
São trabalhos que representam uma tentativa de reflexão artística sobre o desejo sexual, usando imagens fortes, envolvendo fetichismo, sado-masoquismo e até mesmo vídeos comerciais.
Por isso, a entrada só é permitida a adultos. Os mais jovens têm que mostrar documentos na entrada, provando serem maiores de 18 anos.
Um dos símbolos da exibição é a reprodução de uma boneca do cenário de "A Laranja Mecânica", filme de Stanley Kubrick de 1971.
Escândalo
A relação entre poder, olhar e corpo é tema de trabalhos de John Miller usando cenários pornográficos, ou de William E. Jones, que utiliza vídeos policiais de monitoramento mostrando sexo entre homossexuais dentro de banheiros.
Já Katrina Dashner faz, em sua obra, uma versão lesbo-feminista de Lolita, de Nabokov.
Outra peça lembra um grande escândalo que estourou na década de 70, quando uma modelo estampada junto com um bebê em uma embalagem de sabão em pó de uma multinacional estreou uma produção pornô.
A empresa retirou as embalagens imediatamente de mercado e a atriz, Marilyn Chambers, ganhou fama mundial.