Moeda Social no RJ

A primeira moeda social do Estado do Rio de Janeiro, o "Capivari", e o Banco Comunitário Capivari (BCC), foram lançados hoje (16/11) em Silva Jardim com a participação de várias autoridades locais e de outros municípios. Gerida pela Associação Comercial e Industrial local, com o total apoio da Prefeitura, a moeda já está circulando na cidade e o BCC teve o proprietário de uma oficina de consertos de bicicletas, Geneci Nascimento da Conceição, como o  pioneiro a fazer um empréstimo, no valor de 800 Capivaris, para a aquisição de novas peças de reposição a serem revendidas. Neste primeiro dia de funcionamento, o BCC trocou 6.413,50 capivaris por reais.

O prefeito Marcello Zelão aproveitou para pagar em Capivaris a conta do almoço dele e do Presidente da Câmara, Flávio Brito, com o desconto de 5%, num restaurante da cidade. Dezenas de pessoas também fizeram questão de trocar reais por Capivaris no novo banco, que funciona na Rua Borges de Alfradique, 60, no Centro. Inicialmente a previsão era de serem lançados seis mil Capivaris, mas o prefeito Zelão anunciou, durante entrevista coletiva à imprensa, que a quantidade já foi aumentada para 50 mil, tendo em vista a grande expectativa de procura, e que há condições de aumentar ainda mais.

– Agradeço aos comerciantes pela grande aceitação da moeda e aos vereadores pela aprovação unânime da iniciativa, e lembro que o Capivari nasceu porque eu amo Silva Jardim. Este é um banco para pobre e não para quem tem dinheiro, que vai começar a mudar a realidade econômica da cidade através daqueles de menor poder aquisitivo, aos quais os bancos convencionais não emprestam – disse Zelão, lembrando que a moeda na verdade "é só uma coisinha", enquanto o micro-crédito será mais alguma coisa e que o mais importante mesmo é o crescimento que ambos trarão para o município. A mesma opinião foi compartilhada pelo vice-Prefeito, Fernando Augusto (na foto acima durante o discurso), que fez questão de reafirmar o seu já conhecido bordão: "eu continuo empolgado gente!..."

O Presidente da Associação Comercial, Aulus Macedo, lembrou que no início do lançamento da ideia houve alguma rejeição da categoria, mas hoje já há 100% de aceitação e adesão: "esperamos um aumento de cerca de 30% nas vendas na cidade, pois a ideia é muito boa; porém, ela só vai vingar mesmo se toda a população aceitá-la", lembrou, acrescentando que a moeda chegou em boa hora, próximo às festas de fim de ano.

Já Joaquim Mello, Presidente do Instituto Palmas, entidade que prestou consultoria técnica para a implantação da moeda em Silva Jardim, destacou que o Capivari já nasce forte, pois tem o total apoio da Administração Municipal, sendo a primeira incentivada pelo Governo local: "a moeda de Silva Jardim certamente servirá de modelo para outras cidades na Região", garantiu, lembrando que com a de Silva Jardim já são 52 moedas em todo o Brasil (27 só no Ceará), e que "só não há mais porque dependem de incentivadores como Zelão" (a foto ao lado mostra os funcionários do BCC, com o gerente Epitácio Lucena, à esquerda).

Zelão também anunciou que, para alavancar a circulação da nova moeda, pretende passar a conceder em Capivaris os valores correspondentes às mil cestas básicas doadas mensalmente a famílias de baixa renda no Município. "isto vai resgatar a cidadania e a dignidade dessas pessoas, pois elas poderão sacar o dinheiro e comprar aquilo que quiserem no local que acharem melhor, fazendo com que os valores também circulem mais na nossa economia", ressaltou. Pensa, ainda, em conceder vale-alimentação para os servidores públicos em Capivaris.

Fernando Perissé, superintendente regional do Banco do Brasil, um dos

parceiros na iniciativa, disse que "é um prazer participar do empreendimento, o qual acredito que possa fazer grande mudança no Município". Segundo ele, "vale lembrar que o BCC não é nosso concorrente, mas complementa as nossas atividades, pois atinge parte da comunidade que o BB não consegue alcançar", disse, observando "que somos uma espécie de padrinhos da ideia, mas que ela só vingará se tiver o acompanhamento e investimento de todos". (A foto ao lado mostra o prefeito Zelão e o microempresário Geneci Nascimento da Conceição, primeiro a fazer um empréstimo, no desenlace da fita de inauguração do BCC)

A secretária de Turismo, Indústria e Comércio (Semtic), Vera Brito, disse que hoje é o "Dia C", "C" de Capivari, "C" de Comunidade que foi construído ao longo de um ano com a sensibilização de toda a sociedade. "Hoje isto se transforma em realidade e nos remete a uma reflexão de que devemos persistir na nossa caminhada", destacou, enaltecendo o desprendimento do prefeito Zelão e a parceria com a Associação Comercial.

Na parte da tarde ocorreu o work-shop "Economia Solidária" apresentado por Joaquim Mello que explicou como funciona o Capivari e a experiência deu certo, principalmente lá no conjunto Palmeira, em Fortaleza (CE): "a economia solidária é para que todos ganhem; pois quando apenas uns ganham outros acabam perdendo, e não é possível criar uma sociedade em que todos ganhem ao mesmo tempo". Ele também tirou dúvidas em geral apresentadas pelos participantes e falou das vantagens da iniciativa.

Durante o lançamento também foi exibido um documentário com depoimentos de parceiros da inciativa e de integrantes da economia informal falando sobre a importância do lançamento. Aconteceu, ainda, uma "feira da economia solidária", com estandes de produtores de palmito, do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf – incentivado pela Secretaria municipal de Agricultura, Abastecimento e Pesca – Semaap), da Secretaria municipal de Saúde, do Projeto Fuxico, da Associação de Artesãos "Tearte" e da Associação Comercial e Industrial.

Após a solenidade, foram entregues kits com cartilhas e adesivos de identificação de estabelecimentos que aceitam o "Capivari" às dezenas de comerciantes que aderiram à ideia. O lançamento foi animado por um show de voz e violão da cantora Sheila Sá, acompanhada do violonista Ricardinho. (Na foto ao lado, uma das primeiras pessoas a trocar reais por capivaris no BCC)

Entre as centenas de presentes estiveram, ainda, os prefeitos José Luiz Alves Antunes (Rio Bonito), Carlos Pereira (Tanguá), André Mônica (Araruama) e Antônio Marcos (Casimiro de Abreu), além do secretário de Ciência e Tecnologia de Niterói, Raimundo Romeo (representando o prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira); o subsecretário estadual de Governo, Alexandre Felipe; o Presidente da Câmara municipal, Flávio Brito; e o padre Rogério Simplício (representando o Fórum de Economia Solidária de Silva Jardim – Feso –); além da representante do prefeito de Teresópolis, entre muitos outros. (Na foto abaixo, o Presidente do Instituto Palmas, Joaquim Mello -- à esquerda --, a secretária de Turismo, Indústria e Comércio, Vera Brito; e o subsecretário, Antônio Henrique).